quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Auto-focus

Trovejava lá fora, na rua, para lá dos vidros e paredes que nos fazem esquecer como é bom sentir a chuva a tocar-nos a pele. O João, abraçando a mãe, ambos sentados no sofá, reagia levemente aos estrondos que corriam desde o relâmpago até nossa casa. Levantei-me, espreitei através do vidro, apenas ocasialmente molhado pela ausência de vento, e nesse mesmo instante o céu ficou azul, claro, intenso e brilhante, como se não fosse ainda noite cerrada.

Mais uma noite de trovoada... ou talvez não! Hoje abri a janela, estendi a mão, senti a chuva, e senti o desejo de agarrar os raios de luz que, provavelmente, continuariam a surgir por alguns minutos. Com máquina, objectiva e tripé colei-me à janela aberta para melhor ver o mundo - o frio e o barulho, contudo, levaram a Ana e o João para o quarto, não muito longe mas muito mais sossegado.

Foquei o infinito, brinquei com a exposição, rodei os comandos da abertura e diafragma até encontrar no pequeno visor a luz que melhor representava o momento. Enrosquei o cabo de disparo e, sem tocar na máquina, ofereci ao sensor os poucos milhões de fotões que continuavam acordados.

Escolhido o enquadramento, distância focal, e todos os parâmetros da máquina, fixei o cabo de disparo e assim obriguei a máquina a disparar continuamente, captando sucessivos períodos de trinta segundos, através do mais apertado quasi-círculo da objectiva ... «raios me partam se não apanho um relâmpago».

Raios me partam
2007.09.11 21h55 @
De casa, Lisboa

(...)

Encontrei-me na fotografia há muitos anos, encondendo atrás da câmera e película o desejo de revelar o Mundo, ou melhor, 'um' mundo visto e vivido por mim. Enquanto um livro ou uma gravura podem ser imaginados, uma fotografia tem de ser presenciada pelo fotógrafo, alguém tem de "estar lá" no momento certo, com o olhar certo. É com esta curiosidade que ainda hoje observo muitas fotografias, não observando apenas as duas dimensões da impressão mas construindo um momento em perspectiva desde o fotógrafo com a sua máquina até ao infinito que a imagem possa transmitir.

Mas embora tenham passado muitos anos desde a minha primeira fotografia, sinto que estou a acordar, a começar de novo, a deixar-me levar pelo impulso de fotografar e a procurar nos contornos do quotidiano fragmentos de imagens que me mostram que sou!

(Aos poucos vou fazendo sentido!...)

1 comentário:

arianams disse...

Ena! Que belo relâmpago!
Foi bom ter novidades tuas :)
Beijinhos