sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Going offline

A Ana foi para a Universidade, assistir a uma palestra e depois a uma aula. Nós, os homens, estamos aqui em casa, em jeitos de despedida, com as malas quase fechadas e o computador prestes a desligar (acabei de receber um SMS do meu Pai para nos ligarmos ao Skype dentro de meia hora... lá estaremos, para uma vídeo-conferência transatlântica).

Esta casa, esta comunidade, têm um toque de magia que não consigo facilmente traduzir em palavras... não temos grandes luxos à nossa volta (nem sequer panelas e tachos decentes), gozando apenas de um rádio fanhoso na mesa de cabeceira, um televisor, um micro-ondas, e máquinas de lavar e secar roupa na cave (com muito baixo aproveitamento de espaço, dado que só tem estas duas máquinas e nada mais). No piso térreo temos uma sala com cadeiras, duas mesas (uma sempre cheia de tralha e outra com o computador portátil e o telefone fixo), um sofá que instantaneamente faz doer as costas, um acesso à cozinha (aberta para a sala) e escadas para cima (três quartos e uma casa-de-banho) e para baixo (cave). Não sendo má, a casa é muito, muito simples, sem os objectos que nos (erradamente) confortam em Lisboa.

Mas temos algo que talvez jamais voltemos a ter e que nesta fase da nossa vida familiar mostrou-se fundamental - a possibilidade de abrir a porta e, em total segurança, vermos o João brincar na caixa de areia através da janela da cozinha, ou brincar na relva, vigiado através das portadas da sala, ou simplesmente de ouvir a Ana chamar-nos para jantar quando estamos a brincar no escorrega ou no baloiço ao cair do Sol. E todos estes momentos são vividos com outras crianças, de várias idades, várias nações (sendo que nem sempre há entendimento verbal entre elas), naquilo que Jarabe de Palo chamou 'la pureza de la mescla', o tal 'melting-pot' que conhecemos em Londres ou Nova-Iorque.

E de repente, após duas (curtíssimas) semanas em Ann Arbor (MI 41805), percebemos o discurso das falsas promessas dos bens materiais - os "pequenos" presentes que nos vamos oferecendo com a finalidade de colmatar as falhas da nossa vida quotidiana. Sem o LCD, a aparelhagem, a casa de 125m2, somos felizes como nunca. É claro que a vida esteve facilitada por eu estar de férias, mas mesmo a Ana que esteve a trabalhar todos os dias, fora de casa, sentiu com igual intensidade a magia deste lugar. Mas estamos no anúncio do Outono e, segundo parece, o Inverno é rouco, feio, careca e áspero, tornando este sonho menos desejado para o João (e é por ele que este lugar se mostrou tão especial) - o frio extremo, alucinante, torna difíceis as brincadeiras na areia, no escorrega e no baloiço!... Começamos a pensar no João fechado dentro de casa e o sonho vira pesadelo, tortura. E claro, faltam-nos a família e aqueles amigos que nos preenchem a vida, com quem nos partilhamos e vivemos - mas em três semanas a saudade é controlável, camuflada pelas surpresas e novidades deste lugar.

Hoje partimos para Chicago, num carro alugado para o efeito. Agora sim, vamos ter férias a três, vamos passear juntos, sem horários académicos nem reuniões marcadas. Vamos estar todos de férias. Lá estaremos em 'blackout', sem ligação à internet e procurando não dar muita atenção ao telemóvel. Vamos estar juntos, só nós, num egoísmo de curta-duração que nos dará forças para os meses vindouros.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto mesmo de ler este blog!!!