domingo, 7 de junho de 2015

Ao fim do dia

Por pouco hoje não fotografava!

Levei a máquina comigo - como quase sempre o faço -, mas passei grande parte da tarde agarrado a um produto sem pilhas, sem baterias, sem ecrãs, sem botões, sem cartões de memória onde se pode escrever e reescrever o presente.

Sem fugir da fotografia hoje estive a ler um livro sobre a história de Sebastião Salgado, alguém de quem admiro o trabalho mas nada mais sabia a seu respeito! «Da minha terra à Terra», uma viagem desde um local remoto em Minas Gerais, onde nasceu, para se tornar um documentador do Mundo! É fantástico conhecer um pouco da pessoa e da forma de trabalhar que consegue dar vida ao papel, apenas com tons de cinzento escolhidos a rigor entre o preto e o "nada" que deixa revelar a palidez do papel.

Vou a meio do livro, mas sei que não tardarei a terminá-lo!


No final do dia, pouco antes de sair da Ulgueira, uma flor chamou-me, num momento verdadeiro que, ao cair da noite, já não têm raios de luz mágicos ou sombras que agigantam o tamanho dos mais pequenos seres. Sem ilusionismo nem feitiçaria, vi uma flor, uma borboleta, uma carantonha assustadora, um louco de óculos escuros e bigode, seguido por um fiel e leal súbdito, mais baixo, mais pequeno, mas sempre próximo e presente. E nesse momento fui buscar a máquina, tirei-a do saco, preparei-a para o "retrato", baixei-me, olhei, mexi-me, olhei, esperei, pensei, olhei, decidi e disparei.

Não revi a fotografia no local, não quis ser "moderno"! Quis antes ser como ele, como o grande Salgado que viajara meses sem poder ver os segredos que os seus olhos guardaram numa esquisita emulsão química, mágica e sinistra, reveladora de um passado não repetível. Naqueles dias, a decisão era tomada antes de disparar, não depois de "testar" e olhar para o pequeno ecrã que ajuda mas que vicia, que inibe uma enorme exigência e a máxima atenção ao momento. Não me quero comparar a ele (quase poderia dizer Ele), quero apenas (re)aprender a pensar a fotografia, a gerir quando não disparar, a saber antecipar quando o momento não valerá a pena!

Pode ser uma simples flor, mas para mim hoje valeu a pena esperar! E irei olhar para esta flor quando lá voltar, e irei perguntar-lhe o que mudou desde o dia em olhei para ela com olhos de ver.


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